A gente sempre acha que será a última vez a ter uma inspiração, a conseguir unir palavras certas - ou erradas, que não haverá outra ocasião para casar-se com as elas e fazer uma dança sincrônica entre o que é dito e o que se sente. Normal. A gente também sempre está um fio de morrer, de se perder. De ser esquecer.
Mas a gente sempre encontra uma nova pessoa. Uma atitude honrosa, ou um sentimento digno de ser revelado ao mundo. E não só isso, mas serem expostas com a nossa visão de mundo, com o vocabulário que ao longo dos anos fomos adquirindo, com os pensamentos que fomos moldando ou com os diálogos que nos fizeram aprender. É assim que tem que ser.
Mas nunca se esqueça que um escritor é em maior parte um inventor de histórias, um mentiroso com licença, um autobiógrafo do que não viveu. Ele superestima pessoas, sentimentos, atitudes, olhares. Ele é em grande parte um ocioso que vê sempre mais do que é.
E é por isso que eu aconselho á se apaixonar por quem escreve. Mas quem escreve com paixão, aquele que escreve uma mentira descarada tão bem elaborada que é fácil perder a razão entre as linhas. Apaixone-se por quem escreve, pois este estará sempre a ponto de eternizar um fragmento da vida, como uma foto. Só que sem precisar ser fidedigno. E você gostará desse jeito, como se a cada diálogo fosse um ensaio, cada encontro um conto, cada beijo um poema, cada dia uma crônica.
E ele vai sempre transpor sua pele, a alma é pouco. Ele irá observar cada microscópico movimento seu. Fará cantigas para exaltar sua amada. E não cansará de conversar. Creio que é o que mais gostará de discutir relação. Mas são emotivos e muitas vezes irônicos, usarão de suas artimanhas sarcásticas para desdobra-la. Acabará cedendo. Não dá pra não perceber que eles são apenas criaturas com um dom divino de distorcer e descrever o mundo. E a melhor coisa é ver um deles em ação. Pensativo. Escrevendo. Refazendo. Odiando sua obra. Alguns momentos de humildade podem ser relativamente melancólicos. Mas quando gosta, o ego-centrismo aflora. Não são equilibrados, são tendenciosos e a parcialidade está através dos sujeitos ocultos.
Mas são os melhores amantes, amigos, seres que conseguem voar mundos e mares, sem precisar abandonar ninguém. O mundo deles está entre o céu e a terra. É intangível para os racionalistas. É realista demais para os sentimentais.
E assim, não temo ficar sem inspiração. Na verdade ninguém sabe o que encontraremos na próxima esquina. Se é amor, paixão ou ódio. Apenas digo que preciso continuar tentando. Porque sou amante das palavras e elas conseguem por si só dar mais verbosidade até para o que não pode ser conjugado.
Ame quem escreve. Ame quem escreverá seu romance e será também seu homérico herói.
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