domingo, julho 08, 2012
Roubaram-me o Café
O inverno se aproximava. Com ele o gelo e friagem só encolhiam o coração daquela garota. Ela mantinha-se calada, sempre pensativa, sempre vagarosa.
Possuía consigo o mais amargo dos gostos e infelizmente o mais lindo par de olhos.
Ela olhou pra mim.
"Gelei!" Pensei.
Mas era só a janela aberta, assobiando o gosto do vento de julho.
Tentei mais uma vez. Voltei a prestar atenção na minha folha. Mantive-me concentrado no café quente. Só que a fuga da minha mente para ela, era inevitável, quiçá, magnífica!
Sua postura, sua expressão, seus cabelos, aquela boina vermelha, aquela pele e eu não me atrevo a qualificar seus olhos, seria tudo um mero eufemismo.
Não deveria chamar de sorte, quando ela caminhou vagarosa - como se mantinha naquela tarde - veio até mim. Roubou-me o café, o livro, as palavras e seu não estiver sendo pedante, o coração.
Pediu para se retirar e tudo que me prometeu foi uma segunda vez, um segundo café e um outro roubo.
Semanas, meses. Se houve um tempo exato que passamos juntos, eu não sei. Além do meu coração, ela levou minha mente, razão e equilíbrio. Esse último pode ser constatado pela nossa horizontalidade noturna, verticalidade matutina e enroscamento invernal. Mantinha-me em forma, sem academia.
E eu não sei bem como relatar o desfecho dessa grande e minúscula história. Parte porque brigamos, nos xingamos e nos despedimos. E parte porque nos reencontramos, nos beijamos e fizemos promessas para o amanhã. Um paradoxo comum na vida de qualquer casal.
E quando deixamos de ser casal, eu não sei. Talvez quando a crise de ciúmes á cegou, ou quando eu não a acompanhei naquele evento familiar. Mas aposto minhas fichas que foi em junho. Quando não aparecemos no lugar marcado, um ano depois.
Era um show, a nossa banda, nossa trilha sonora, a razão de termos continuado tantas conversas, o motivo de pararmos de falar tantas vezes. Ela não apareceu. Eu também não. Medo? Talvez. Todos têm medo do que não conhecem. Mas ela me conhecia, queria que me desvendasse mais, até ela me odiar por isso. Mas ela não foi. Eu não fui, Nós não fomos. Aí deixamos de ser.
Em algumas poucas, raras e frívolas vezes que nos surpreendemos com a presença do outro, ela mantinha seu olhar escuro, quase escondido. Ela não sabia o que falar, o que sentir, o que pensar. Eu sabia.
Sabia que poderia sobreviver sem ela, mas seria a atitude mais estúpida a se fazer. Eu não queria apenas sobreviver, queria amar meus dias - com ela, por favor.
Ela desconversou, se acanhou. Me lançou um olhar novo. Rejeição talvez? Por fim, me despedi.
Preferia ter a certeza da sua dúvida, do que ficar em dúvida sobre sua certeza. Era certo que ela agora, lançava aquele olhar instigante para outro, então só me restou o frio, a única coisa que ela não me roubou.
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