Falar demais é problemático. Odeio pessoas monossilábicas. Sempre tentei me equilibrar entre esses dois mundos. Ora falando, ora escutando. Acho que estou indo bem. Ou achava.
Recentemente você me deixou boquiaberta, palavras tem o incrível poder de transformar água em vinho, comigo não foi diferente. A dança que você me fez assistir, me colocou no papel principal. Eu estava ali, me vendo. E não é como se fosse qualquer dança.
Em nenhum momento pensou-se em mudar as funções dos personagens. Queria que você permanecesse como meu braço direito, e eu como o seu. Companheirismo de dar inveja a todas as duplas históricas. Compartilhamos muito. Apaixonamo-nos pelo talento do outro. Assim eu pensava.
Até que aquela carta chegou, declarações! Não como um amor exaustivamente melancólico, mas com certa dose de racionalidade e admiração. Os meus detalhes, que você gravou. As nossas conversas que você memorizou e os nossos planos, que como eu já disse, eram nossos planos.
Só que estamos num plano arbitrário. Mundos paralelos. Ideias opostas.
Sei que estou em seus planos. Sendo sincera, já era de se imaginar, mas era inofensivo quando isso não passava de uma ideia e era deixado no plano do subentendido.
Quando eu achava que era isso.
Quando você achava que era isso.
Mas por fora, vivíamos vidas supostamente perfeitas, de diálogos extensos e intelectuais, batatas gigantes e aquele hambúrguer - que você não consegue comer todo.
Era bom, meu amigo.
Era de se admirar.
Sei que começamos ás avessas, naquela festinha. Uma mão milagrosa juntou nossos nomes e no fim da noite, descobri que você pegava o mesmo ônibus que eu. Coincidência.
Meses depois, estávamos pegando outros ônibus, ouvindo-nos. E sempre acrescentando algo em nós mesmos.
É difícil falar.
Tá difícil escrever.
Eu sei o quanto dói, esperar uma resposta. Se despir e esperar a reação do outro. Mas agora eu entendo uma coisa que fizeram comigo: O silêncio da rejeição.
Ele dói. Mais do que pensei. Tanto em quem se cala, quanto em quem não ouve. Tento desesperadamente tirar algo, soltar algum comentário, quero gritar! Mas o quê? Deveria lhe falar do que sinto? É inútil e não lhe acrescenta em nada, por isso me calo. Sou forçada.
Por isso que eu apenas fiquei em silêncio. Talvez por querer saber falar algo realmente amável, ou por querer que você me diga que tudo isso não passa de uma brincadeira. Aí voltamos a ser os amigos idiotamente inteligentes de sempre.
Mas veja só! Nem todos compartilham dos mesmos sentimentos.
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